Nós somos o que comemos. Mas
e o gado? Será que ele é o que come? A dieta do animal tem grande influência
sobre as características da carne, alterando cor, maciez, tempo de prateleira
e, principalmente, o teor e a composição de ácidos graxos. Para entender como a
alimentação dos animais afeta a qualidade, é preciso saber um pouco mais sobre
a criação deles.
De acordo com Walter Motta, professor titular do curso de Zootecnia da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pelo ponto de vista da produção,
as práticas de criação podem ser intensivas, semi-intensivas e extensivas. A
diferença principal da caracterização desses sistemas é quanto ao grau de
liberdade e densidade do animal por área ocupada.
“O sistema intensivo vai restringir um pouco mais a mobilidade do animal, mesmo
ele tendo um espaço menor, sendo confinado, tem que haver conforto para que a
produção seja bem-sucedida. O sistema extensivo é aquele visto mais comumente,
o gado fica livre no pasto natural. Apesar de o gado ficar livre, é preciso ter
segurança para ele, é um sistema denso, pode aumentar os riscos de problemas
derivados da superpopulação. O semi-intensivo é o meio termo”, explica o
zootecnista.
Alimentação e criação
O tipo de alimentação do animal, a qualidade e a maciez da carne de
consumo estão diretamente relacionados ao seu método de criação. O gado do
sistema intensivo, por estar preso em pequenos espaços, alimenta-se de ração
específica, suplementos e água em cochos, recebe cuidados veterinários com
frequência e existe a preocupação com a genética. Neste tipo, a carne produzida
é macia porque a atividade física do animal é menor.
No extensivo, prática mais
brasileira, o gado é criado solto, em pastagens nativas, alimentando-se de
capim e grama. A carne é mais dura devido à musculatura mais rígida do animal.
A qualidade do pasto vai depender das condições climáticas.
“O gado solto se movimenta mais e tem a carne mais dura por desenvolver sua
musculatura ao subir e descer morros para procurar comida. Mesmo no intensivo,
o animal não pode ficar imóvel, ele tem que se exercitar para criar atividade
muscular para o seu desenvolvimento. Mas a musculatura não significa que a
qualidade da carne seja ruim, isso depende do alimento consumido e do manejo”,
informa Walter.
Composição da carne
O zootecnista da UFMG
destacou que alguns componentes da carne podem ser afetados com a alimentação
dos animais, mais propriamente o teor da gordura comparado aos outros
componentes. A intensidade dessa mudança dá-se através da espécie do animal. O
que é possível manipular é a quantidade de tecido magro em relação ao tecido
gorduroso.
“O objetivo da zootecnia é primar pela
segurança alimentar do homem ao formular a dieta dos animais e garantir os
produtos com segurança e sabor. Você pode aumentar ou diminuir o volume da
carne e alterar a composição e a qualidade da gordura, que proporciona
segurança e melhora na relação dos ácidos graxos. Há a modificação da qualidade
da gordura porque no intensivo, por exemplo, os animais consomem grãos ou
derivados, alimentos saudáveis”, comenta.
Walter complentou dizendo: “A
criação intensiva tem uma dieta energeticoproteica mais elevada, comparada ao
animal do pasto, devido à inclusão de grãos. Há uma ilusão de se dizer que os
animais recebem hormônios inseguros para a alimentação humana, mas isso não é
verdade. Como há dúvida quanto à eficácia, isso foi banido”.
Na alimentação do homem,
existem basicamente dois tipos de gorduras, as saturadas e insaturadas. As
saturadas têm glóbulos gordurosos maiores e podem proporcionar problema no
processo digestivo humano. Os animais ruminantes, que estão consumindo os
produtos vegetais, têm um processo de saturação, então a gordura será saturada.
Nas aves e suínos, as gorduras têm um grau de insaturação maior.
“O que faz mal é consumir
muita gordura, seja ela de que tipo for. A gordura saturada tem mais problema
do que a insaturada. As gorduras insaturadas são as que proporcionam os ácidos
graxos das famílias ômega-3 e ômega-6, deles derivam a imunidade de uma forma
geral. É importante consumir gorduras de forma moderada, é essencial na dieta
do homem”, conclui o zootecnista".
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